Por Marcela Uliano da Silva
Repost de Improviso Científico:
Recebi muito input externo essas últimas semanas – leituras, vídeos, diálogos com amigos, e até a experiencia mais dura do confronto com a realidade e inevitabilidade da morte – que culminaram na minha vontade de escrever esse texto.
Fiquei pensando sobre as definições de tempo e sucesso da sociedade contemporânea. Já peço desculpas imediatas pelas próximas generalizações que faço - que são necessárias na hora de se escrever um texto falando sobre definições - e gostaria de deixar claro que valorizo e admiro a busca individual de cada um (para os que fazem essa busca) por suas próprias verdades, por suas próprias definições.
No geral, diariamente nossa rotina e tempo envolvem uma sucessão de longas horas de tarefas, compromissos e atividades. Nesse mundo lotado de informação, de celulares e aplicativos de produtividade, não temos tempo para expressar e viver nossas particularidades individuais: ir em busca das perguntas e respostas que mais nos intrigam, das atividades que mais gostamos. O mais preocupante não é nem a falta de tempo; é que não nos damos conta dela.
Essa loucura automática diária em que vivemos é supostamente a nossa forma de ir em busca do chamado sucesso. O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais.
Está tudo errado.
Não é somente a minha ou a sua impressão, mas os levantamentos quantitativos demonstram que as pessoas que se sentem mais realizadas não são necessariamente as que tem maior segurança material, que representa a nossa definição de sucesso. As pessoas realizadas são outras:
Essa TEDx talk em Victoria no final de 2014 do meu amigo David Lang, conta um pouco da sua história pessoal. Primeiro, de forma fantástica, David trás a noção do tempo a partir da perspectiva dos dias. Ele não conta a sua vida em anos, mas em dias vividos. E esse é um exercício que todos nós deveríamos fazer. A consciência e o apreciar de cada dia vivido pode nos ajudar a tirar nossos dias do automático: por mais que durante a semana tenhamos uma série de atividades para desenvolver, da mesma forma, todos os dias, precisamos estar conscientes de que este é um dia valioso, e temos que fazer neste dia o que realmente nos importa.
O que me importa? Como aprecio a vida diariamente?
São perguntas que precisamos nos fazer urgentemente.
Me deparar com a dolorosa realidade da inevitabilidade da morte, e da fragilidade da vida, a partir da perda de um amigo querido, colocou mais urgência ainda na minha busca por essas respostas.
Outra preciosa lição que sai da história de vida do David é a sua definição de sucesso. Lá para o final da sua talk ele afirmar “montei uma empresa, escrevi um livro, dei uma TED talk. Acho que estou realizado.”
E o que ele conclui a partir disso?
“Success is not personal”. - David Lang
Que quando a gente conquista individualmente as coisas que busca, elas não parecem mais tão especiais assim.É por isso que pessoas que atingiram a estabilidade financeira e material, quando acham que esse é todo o sentido da vida, acabam se tornando extremamente infelizes e insatisfeitas. Consquitou coisas, mas não satisfez o desconforto e a ânsia de realizar.
Diante da efemeridade e pequenez da vida individual de cada um de nós, você achava mesmo que ser apenas um ser produtor de resíduos; que tem uma casa linda, um iate e um pau de selfie, iria preencher os seus anseios mais profundos de realização pessoal? Porque estamos conscientes de que a nossa vida é pequena, curta e insignificante, faz sentido constatarmos que as pessoas mais felizes são aquelas que partilham: experiências, bens financeiros, conhecimentos. São aquelas pessoas que fazem algo além da sua borda: que transbordam. Que envolvem outros, que modificam e sensibilizam a vida de outros. E assim se eternizam.
“A dream you dream alone is only a dream.
A dream you dream together is reality.” – Yoko Ono
Que você tenha um bom dia.
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