segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Igreja Appleniana do Último Santo

A Igreja Appleniana do Último Santo - Inspirado na fé de um amigo

Quando o brilhante Steve Jobs ainda guri desenvolvia equipamentos eletrônicos na garagem da casa de seu pai adotivo, o mesmo nem devia sonhar que um dia seus projetos poderiam mudar a vida de milhões de pessoas. Seria ainda mais difícil de imaginar que muitos de seus futuros clientes não seriam apenas clientes, mas se converteriam em fiéis, no sentido bíblico, seguidores da religião Appleniana. Sua companhia, a Apple, da qual foi fundador, depois demitido, e para a qual retornou após alguns anos, se tornou uma religião para muita gente. E como toda instituição religiosa que se preze, a Apple faz o uso de técnicas e estratégias precisas para aumentar seu rebanho e a arrecadação de seu dízimo. Vigílias, cerimônias religiosas com apresentação de milagres ao vivo e um dízimo cada vez mais salgado, deixam os titios Edir e Valdemiro com uma pontinha de inveja.

Hoje, no início do terceiro milênio, a Igreja Appleniana possui milhões de fiéis em mais de 250 países, feito não alcançado por nenhuma outra religião. No entanto, diferentemente de outras grande religiões, pouquíssimos fiéis possuem a imagem do fundador em sua parede de casa, embora também seja possível encontrar isso na casa dos mais fervorosos. Muitos críticos dizem que após a morte de Jobs a igreja perdeu qualidade nos seus milagres e que as homilias e milagres do novo cardeal, Tim Cook, não fazem o mesmo sucesso que outrora os sermões de Jobs faziam. No entanto, a morte tem sempre uma força arrebatadora na emoção e irracionalidade das pessoas, justamente o terreno mais fértil para criar a arapuca da conversão.  Assim, o crescente rebanho está cada dia mais disposto a realizar maiores promessas e maiores sacrifícios, financeiros também claro, para ser o fiel mais abençoado da paróquia e entre seus irmãos da comunidade.   

Vigílias são cada vez mais comuns e mais duradouras antes da canonização de cada santo, que os fiéis esperam ansiosamente uma vez por ano. Dos Estados Unidos ao Japão, fiéis acampam durante dias e até semanas em frente aos templos na esperança de receber a graça e a salvação o mais rápido possível. Em frente ao templo todo envidraçado na Quinta Avenida de Nova York, que lembra vagamente a pirâmide em frente ao Louvre, jovens e adolescentes de uma das correntes mais fanáticas estão acampados a espera da canonização do sexto santo da Igreja, que no entanto, ainda não tem data para acontecer. “Estou acampado aqui há 12 dias, estou super empolgado e ansioso por este momento. Não vejo a hora de receber meu Sexto Santo direto da mão do cardeal. Além de receber uma série de bênçãos e orações que ainda nem conheço e nem necessito, mas tenho certeza que tão logo eu as conheça, serei tocado, e não mais poderei viver sem as mesmas. Vários de meus amigos estão aproveitando o final das férias de verão, vida profana, sexo, bebidas e rock ‘n’ roll. Mas apenas eu começarei o novo semestre abençoado!”, diz um orgulhoso universitário que pediu para não ser identificado. “É que quero fazer uma surpresa para todos”, finaliza ele.  Do outro lado do mundo, um fiel japonês se reveza com a namorada na vigília em frente ao  templo Apple no bairro de Ginza, em Tóquio. Enquanto isso, ele posta selfies em suas redes sociais gabando-se de ser o primeiro da fila e recebendo instantaneamente centenas de likes. “Minha namorada fica na fila durante o dia enquanto eu trabalho, e eu passo as noites aqui”.






 A tão esperada cerimônia para canonização do sexto santo aconteceu alguns dias atrás e contou com a Igreja lotada. A celebração foi um sucesso!  O Templo estava lotado e havia uma excitação no ar.  “O mundo está parado neste momento para ver esta celebração”, diziam os mais exaltados. O burburinho dominava o ambiente por horas, até que, em determinado momento surge o cardeal atual, o abençoado por Jobs, Tim Cook. Ele adentra ao altar e é ovacionado pela multidão de fiéis e jornalistas presentes. Na assembléia, se observam sorrisos, espantos, bocas abertas, choros, assobios, aleluias, misturas de contemplação, fé e euforia. Todos imaginando o quanto suas vidas serão melhores e mais excitantes agora com os novos milagres que este ser recém nascido, mas já idolatrado, poderá realizar.

Os fiéis que não foram capazes de comparecer à cerimônia que acontecia na Califórnia, se reuniram em grupos em cada canto do mundo para assistir e descobrir os novos milagres que este sexto santo seria capaz de realizar. Em Vancouver, na costa oeste do Canadá, um grupo de fiéis que trabalham como autônomos, tiraram a tarde para folga e realizaram um barbecue em um parque da cidade para celebrar e acompanhar a cerimônia ao vivo. “Embora o verão já esteja acabando, eu ainda não tinha curtido um dia de parque neste ano, e ainda não havia me reunido face-to-face com meus amigos. Mas este momento é sagrado para todos nós, todo santo ano nós fazemos questão de acompanharmos juntos e celebrarmos, é o ponto alto do verão sem dúvida nenhuma”, disse um jovem engenheiro.

No entanto, outras igrejas tem redobrado as críticas ao Rito Appleniano nos últimos anos. Dizem que os últimos santos canonizados fazem praticamente o mesmo que os anteriores e que apenas necessitam de diferentes orações para interceder pelos mesmíssimos milagres. Pior ainda, outras igrejas acusam a Apple de oferecer como milagres o que em outros terreiros dizem que já não passam mais de boas benzeduras e garrafadas. Claro, aos ouvidos dos fiéis, nada disso faz sentido, pois o princípio de cada religião é prometer ser a única capaz de levar à Salvação.

A estratégia de arrecadação do dízimo appleniano é super eficaz. Uma vez por ano seus fiéis contribuem com o regular dízimo a cada final de verão do hemisfério norte. Contudo, ao contrário do sucesso alcançado por Malafaias e cia, incrivelmente os cardeais applenianos conseguem arrecadar valores mais elevados justamente sobre os fiéis menos favorecidos financeiramente. Abaixo da linha do Equador, geralmente o dízimo é mais que o dobro do valor pago pelos fiéis do norte. O que torna ainda mais intrigante a fé desses fiéis, pois os mesmos pagam muito mais para receber estes milagres meses e meses após os irmãos do lado setentrional. Seria como se você fosse pagar hoje por um fiat 147 0 km mais do que se pagava antigamente, embora ele continuasse inapropriado para motoristas com mais de 1,63 m. Resumindo, os fiéis mais pobres, recebem as bençãos mais tarde, e mesmo assim precisam pagar um dízimo maior. “Isto se chama fé e devoção, você não precisa entender, precisa viver”,  diz um fiel brasileiro que divide o dízimo em 12 suaves prestações. “Eu sempre divido em 12 vezes o dízimo, justamente por isso que já faz 4 anos que pago o dízimo todo mês”, completa ele.


4 comentários:

  1. Muito bom, Ney!
    Engraçado notar que também existem fiéis de outra igreja, basta ver a seção de comentários de qualquer site de notícias em tecnologia. Ambos grupos se comportam como qualquer outra religião, sempre disputando qual deus é verdadeiro.

    A fé é cega, como dizem por aí.

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  2. hehehe....ler comentarios de qualquer noticia nos mostra o quanto insanas sao as mentes que andam por ae neste mundo véio

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