sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Primavera gelada

Sentada sob a luz amarela da luminária fico imaginando o que restou de mim depois de todo esse tempo. Palavras não ditas e desejos submersos em um inconsciente completamente distorcido. Restou a paisagem do vazio. Algo que poderia ter sido e nunca foi. Amores discretos e humores perversos.

Em uma primavera gelada e chuvosa fico a espreita esperando o que não chega e uma angústia que corrompe o resto da alma que não perdi. Ouço um desafio emblemático de cobranças severas sobre um destino incerto e o medo dilacera o resto da minha úlcera. Vejo sonhos renascendo ao meio da morte de tantos. Zumbi.

Ao longo de todos os anos me senti distante de tudo – de mim mesma. Assisti apaticamente a vida passar sobre um risco de nuvem azul e aprendi que o medo é o que me move. Areia movediça. Disciplina tem sido o que uma rotina é feita. Penso, aqui, na luz amarela, em tudo que poderia ter sido e feito. Sinto-me estática, andando em círculos para voltar ao mesmo lugar, apenas com medos diferentes e angústias aumentadas. O desejo da fuga retornando ao lar do medo.


Areia movediça de sabores perversos. Salvemos a alma que vos escreve para que não tenha mais direito ao pecado que é a morte. O desamor. O desafeto. A loucura permanente da mente inquieta. O outro através de mim.