Madrugada. O sono escapou, como fugitivo preso inocentemente, e agora
tenta provar que tudo foi um engano. Vago por essas linhas a procura de algo.
E, ao surfar pela web, me encontro com “Esmeraldas”, novo álbum da Tiê.
O terceiro trabalho vem repleto de encantos. A faixa com a
participação de David Byrne, “All Around You”, é uma delícia pop com pitadas
tropicalistas. Isso não poderia faltar, afinal, o ex-Talking Heads é amante
incondicional de Caetano, Gil e Tom Zé.
“Par de Ases” é outra que se sobressai, sobretudo pelo arranjo repleto
de camadas de teclados. A sonoridade é culpa do produtor, Adriano Cintra, que
além de culpado pelo sucesso do CSS, lançou neste ano a incrível “Animal”. O
cara, aliás, está cada vez mais requisitado no circuito moderninho paulistano.
Thiago Pethit, por exemplo, deve um boquete a ele, tamanha beleza que o cara
imprimiu em “Rock`n Roll Sugar Darling”.
Mas, voltando à Tiê. Passeando por essa noite sem sono, é de
felicidade que meus tímpanos se abrem na canção “Máquina de Lavar”. Cordas,
guitarra esperta e melodia nos remetem a uma jovem guarda-vanguarda que teria
sido perfeita na voz de Wanderléa. E, a seguinte, “Urso”, com a sua batida
mezzo-dançante e vocalizes, é perfeita para ficar movimenta os dedos do pé.
Sobre o que ela trata? Sei lá.
Apesar da dispersão que a letra da canção citada proporciona, essa
colocação não se aplica ao restante do trabalho. Com 12 músicas compostas em
parceria com uma galera do bem, como André Whoong, cada texto reverbera um lado
confessional que soaria demasiadamente brega se não estivéssemos falando da
Tiê. A sua característica de proporcionar poesia simples e deixar tudo mais
fácil e lindo, é fator positivo em toda sua carreira. Sua capacidade de
traduzir isso em música continua sendo seu principal louvor. E, se o meu sono
não chegou, após a primeira audição de “Esmeraldas”, pelo jeito dormirei
somente amanhã e irei trabalhar com olheiras orgulhosas, pois vale a pena por
no repeat e ganhar a madrugada ao som da ex-modelo da Ford.