A mochila está pesada, não tenho conseguido desapegar das
perdas do caminho. Engraçado! Ela está vazia, porque só tem memória e memória,
meu amigo, não se vê, mas pesa! Ô se pesa!
Por isso tenho tido dores de cabeça incansáveis. Elas ficam
corroendo meu cérebro e tudo que tem nela. Não há mais espaço para nada,
as memórias tem me tomado. E com elas, por isso que pesam, tem vindo tanta
coisa junto! Tem saudades, tem mágoa, amor, ódio, rancor.
Já tinha esquecido como era transbordar sentimento, mas
estas lembranças me tem causado tanto conflito dentro, ando impaciente. Tenho
caminhado pouco, mas como poderia ser diferente? Andar com uma mochila pesada
assim cansa! Paralisa! E que intranquilidade me causa aquilo que é parado,
estático, sem vida, sem cor.
Tenho tido insônia, mas é a dor que chega quando eu me
deito, não sei se é a dor causada pelas memórias ou se é a dor física que causa
o peso da mochila cheia delas.
É tão infantil reprovar na lição do esquecimento que a vida
aplica! É infantil porque é nível de sobrevivência. Não tem como percorrer um
caminho com tanto peso assim. Como eu faço então para deixar tudo isso no
caminho?
É como se o trem tivesse parado no trilho, simplesmente porque
não pode mais correr, não tem mais força pois traz muita bagagem junto. Você
olha pela janela, vê a paisagem e pensa que pode ficar ali experimentando cada
detalhe dela. Você não esquece o infinito, porque ele também está ali na
paisagem, mas pensa que pode deixar pra depois, fica no mundo enquadrado pelo
vidro de uma janela. Você já está um pouco adormecida a ponto de não perceber que o tempo passou e se pergunta por quanto tempo ficou ali parada e por quanto
mais tempo terá de ficar. Então você percebe que terá de deixar coisas no caminho,
na marra, para que o trem possa andar novamente, para que você possa conhecer
outras paisagens, viver outros lugares e encher a mochila de outras e novas
lembranças.
Recebi muito input externo essas últimas semanas – leituras, vídeos, diálogos com amigos, e até a experiencia mais dura do confronto com a realidade e inevitabilidade da morte – que culminaram na minha vontade de escrever esse texto.
Fiquei pensando sobre as definições de tempo e sucesso da sociedade contemporânea. Já peço desculpas imediatas pelas próximas generalizações que faço - que são necessárias na hora de se escrever um texto falando sobre definições - e gostaria de deixar claro que valorizo e admiro a busca individual de cada um (para os que fazem essa busca) por suas próprias verdades, por suas próprias definições.
No geral, diariamente nossa rotina e tempo envolvem uma sucessão de longas horas de tarefas, compromissos e atividades. Nesse mundo lotado de informação, de celulares e aplicativos de produtividade, não temos tempo para expressar e viver nossas particularidades individuais: ir em busca das perguntas e respostas que mais nos intrigam, das atividades que mais gostamos. O mais preocupante não é nem a falta de tempo; é que não nos damos conta dela.
Essa loucura automática diária em que vivemos é supostamente a nossa forma de ir em busca do chamado sucesso. O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais.
Está tudo errado.
Não é somente a minha ou a sua impressão, mas os levantamentos quantitativos demonstram que as pessoas que se sentem mais realizadas não são necessariamente as que tem maior segurança material, que representa a nossa definição de sucesso. As pessoas realizadas são outras:
Essa TEDx talk em Victoria no final de 2014 do meu amigo David Lang, conta um pouco da sua história pessoal. Primeiro, de forma fantástica, David trás a noção do tempo a partir da perspectiva dos dias. Ele não conta a sua vida em anos, mas em dias vividos. E esse é um exercício que todos nós deveríamos fazer. A consciência e o apreciar de cada dia vivido pode nos ajudar a tirar nossos dias do automático: por mais que durante a semana tenhamos uma série de atividades para desenvolver, da mesma forma, todos os dias, precisamos estar conscientes de que este é um dia valioso, e temos que fazer neste dia o que realmente nos importa.
O que me importa? Como aprecio a vida diariamente?
São perguntas que precisamos nos fazer urgentemente.
Me deparar com a dolorosa realidade da inevitabilidade da morte, e da fragilidade da vida, a partir da perda de um amigo querido, colocou mais urgência ainda na minha busca por essas respostas.
Outra preciosa lição que sai da história de vida do David é a sua definição de sucesso. Lá para o final da sua talk ele afirmar “montei uma empresa, escrevi um livro, dei uma TED talk. Acho que estou realizado.”
E o que ele conclui a partir disso?
“Success is not personal”. - David Lang
Que quando a gente conquista individualmente as coisas que busca, elas não parecem mais tão especiais assim.É por isso que pessoas que atingiram a estabilidade financeira e material, quando acham que esse é todo o sentido da vida, acabam se tornando extremamente infelizes e insatisfeitas. Consquitou coisas, mas não satisfez o desconforto e a ânsia de realizar.
Diante da efemeridade e pequenez da vida individual de cada um de nós, você achava mesmo que ser apenas um ser produtor de resíduos; que tem uma casa linda, um iate e um pau de selfie, iria preencher os seus anseios mais profundos de realização pessoal? Porque estamos conscientes de que a nossa vida é pequena, curta e insignificante, faz sentido constatarmos que as pessoas mais felizes são aquelas que partilham: experiências, bens financeiros, conhecimentos. São aquelas pessoas que fazem algo além da sua borda: que transbordam. Que envolvem outros, que modificam e sensibilizam a vida de outros. E assim se eternizam.
“A dream you dream alone is only a dream.
A dream you dream together is reality.” – Yoko Ono
2014 virou o ano do pau de selfie e consolidou uma nova forma de fotografar, do ar, por drones. Se para todo lado que se olhasse já havia alguém com o dedo no "shot", agora o clique vem de cima também. Pois é, já vinha antes, de satélites, mas a parada ficou mais intimista. Os pássaros que não devem estar entendendo nada.
Na pequena seleção abaixo, mais importante que o contexto da imagem, é o sentimento que ela vai transmitindo ao olhar do curioso. Provalvemente, algumas coisas irão se distanciam do sentimento original, mas isso é a vida e a fotografia, acima de tudo, é arte.
E o mundo, é loucão, de morrer de raica ou de felicidade!
Meu objetivo de vida, minha resolução de semana nova:
Sorrir. A foto com o sorriso sincero me contagia. Minha própria foto, a foto de
um ex, a foto do novo amor de um conturbado sentimento. Não me dá inveja. Um
pouco de sensação de perda, um pouco de sensação de encontro. Lembrar quando
sorri, voltar a este ponto e seguir para o próximo. Tentar esperar menos.
Quando o karma não era para ser sinônimo de algo ruim. Mas este ano tentaram
dizer que sim. Aceita teu caminho, aceita teu trilhar, digo a mim mesma. O que está
por vir é o que me compete aproveitar. As tripas de cordeiro mal cozidas com
batatas aguadas fazem parte das grandes sensações do cotidiano, coisas que não são
perfeitas, e nem por isto tiram o brilho do momento. Visceral é tua felicidade,
assim também é tua angústia. Três respiradas profundas, um chá exótico, uma
bala de caramelo. Todas as canções de amor dizem que quem se vai é o injusto. Sempre
me coloco em movimento. O Movimento é a energia em renovação, é a esperança, a descoberta,
o reencontro. Justiça é para os
deuses. Eu só busco saber estar concentrada e sorrindo ao mesmo tempo. Eu só
busco estar relaxada e atenta as oportunidades. Por que me fui? Porque não podia
ficar. Por que voltei? É meu destino viver em ciclos. Preciso partir. Tento
aceitar que tudo é questão de interpretação. E se eu partir ao seu encontro, ao
meu encontro, ao encontro de das doses de felicidade. Um ano é só um ano, o meu
ano não começa em janeiro. Meu ano começa com minha própria criação.