sábado, 6 de setembro de 2014

Viagem no tempo.

Noite de sábado, cerveja, Joyce Johnatan nos ouvidos, os olhos fechados e o coração cheio de saudades.

As longas horas de solidão tem sido preenchidas pelas memórias de um campinho de futebol, passeios de bicicleta, guerras de bosta seca, banho na sanga, brincadeiras na escola, disputas pelas notas de matemática, momentos hilários com a professora de história, horas sentados no meio fio batendo papo, as festinhas americanas, os sorrisos de amigos. Amigos que estão longe...  E só me dou conta de quão longe estão quando abro os olhos e os procuro naquela rede social. A representação mnemônica que fiz de seus rostos está com pelo menos 15 anos de atraso.

Já faz muito tempo que saí de casa.

Lembro de ter fotografado mentalmente minha casa naquela manhã de fevereiro de 2001. Sentado no banco de trás, pronto para viajar com a família para o carnaval, chorei. Escondi minhas lágrimas, engoli minha tristeza, olhei para meu irmão, inspirei fundo e olhei novamente aquela casa de madeira, pintada de branco, janelas marrons, guardei no meu coração a imagem daquele pé-de-manga no limite do nosso quintal. Essa imagem eu não esqueço.

Chorei porque sabia que depois daquele dia a casa não seria a mesma, nem eu não seria o mesmo. Estava deixando para trás a minha casa, o meu lar. Nenhuma casa que habitei depois daquela, habitou meu coração como ela. Aquele foi meu primeiro choro de despedida, foi a primeira vez que deixei para trás alguma coisa muito importante para ir buscar outra. Foi naquele dia que eu aprendi que não se pode ter tudo, que toda conquista tem um preço, e esse preço quem define sou eu.

Depois daquele dia chorei muitas vezes e me despedi de outras casas. Àquela que chamo de lar voltei algumas vezes. Não volto mais. Hoje ela é habitada por outra família, ela ganhou outra história. Não quero as minhas memórias confundidas, quero lembrar da minha casa do jeitinho que ela era. Do jeito que fotografei naquela manhã de fevereiro, para que sempre que eu me sentir sozinho, eu possa fechar os olhos e viajar pra lá. Viajar no tempo, fecho meus olhos e viajo 15 anos no tempo e vejo todos os sorrisos exatamente como eram há 15 anos.

Que lembranças vou evocar daqui há 15 anos?

Enquanto revisava o texto meu telefone tocou, um amigo me convidando para tomar uma cerveja.

Hora de construir mais um motivo para uma futura viagem no tempo.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. A última vez que passei na frente de casa ele ainda estava lá. É resistente, sobreviveu à inúmeros pregos e tábuas na tentativa de construir a tão sonhada casa na árvore. =D

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