Juliana está distante 160 km de
seu primeiro amigo de infância e 28 anos do seu primeiro dia de escola.
Augusto está a duas horas de
descobrir uma nova fórmula, utilizando cera de abelha como base, longe 10 km da
estratosfera.
Mariana está separada de seu
vizinho apenas por uma parede de 12 centímetros de espessura, distante 3.254
dias daquela vez que foi vista pela primeira vez com seus olhos de saudade
eterna.
Há quatro meses que aquele cara
deixou de acariciar suavemente as costas nuas de Dani, numa tarde tranquila de
outono. Ela está a 1 centímetro do beiral da janela de sua casa.
Passaram-se quase vinte mil horas
desde aquela vez em que Pinha, sentado nos destroços de uma antiga construção
portuária, sentiu que as ondas estavam se fundindo com o concreto. Ele está a
duas quadras da Avenida Consolação.
Faz mais de 10 mil minutos que Gustavo
experimentou a sensação do primeiro beijo. Ele está há 5.325 Km de Boca Arenal.
Há 676 segundos Jin Down iniciou sua
mais recente tentativa de se livrar do alcoolismo. Está a 500 centímetros da
garrafa mais próxima.
Isabel não vai sair de casa, pois
seu único destino imaginável encontra-se a dois bilhões de milímetros. Faz
cinco minutos que ela acordou sobressaltada e acendeu o seu último cigarro.
Rodrigo está a 0.2 centímetros do
bisturi. Há 180 minutos ele passava de ambulância no centro da cidade.
Já se foram 25 anos daquele fim
de tarde em que Eduardo descobriu que Deus não existia. Às vezes, como agora,
ele sente que não há distância que o separe de qualquer coisa.
Isabel está há 1.440 segundos do
momento em que, da janela do avião, avistou a circunferência a Terra, quando
comprovou num estremecer de corpo inteiro que ela é redonda. Está a dois
andares de altura daquela sua professora que lhe reprovou em redação.
Todos eles se encontraram há três
horas no vai e vem do centro da cidade, cruzamento da Avenida Consolação com a Rua
das Tormentas, nos 45 segundos em que o sinal estava aberto para o trânsito. Ali
eles ficaram a poucos centímetros uns dos outros.
Que massa!
ResponderExcluirParece aqueles filmes: 21 Gramas, Babel ou Não Por Acaso, este nacional.
Mas olha a doidera da sincronicidade. estava pensando em postar um texto antiguinho, pois o que quer ser escrito não consigo por a mão, e que fala de mais ou menos esta coisa que é de como a referência para o tempo e as distâncias são mutáveis pela forma ou intensidade da experiência.
Mas o teu, André, é muito melhor.
Clap, Clap! Bravo!
ResponderExcluirLuciano, a partir dos filmes que você citou, lembrei de outro: Magnólia. Esse texto eu escrevi inspirado em parte de um vídeo que vi mês passado na bienal de Sampa. Aliás, que cidade mais louca!! Li seu texto, e como o Francyscreydyson comentou em algum lugar, não ficou devendo nada. Você sabe: não existe texto melhor ou pior; o que existe são condições e possibilidades de relações entre texto e pessoa a partir da forma como cada um se localiza no tempo e no espaço, hehehe. Abraço!
ResponderExcluirDemais! Querendo saber qual vídeo da bienal. Sim, uma certa insensatez.
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