E sexta-feira passou como todos os outros dias. Mais um dia
que virou pendência, foi perdido, conta-se em atraso, não pode ser mudado. Um
dia em que a euforia e o desespero se cruzam, e no final está distante como os
outros. Será que este dia terá algum significado para mim? Decidi algo
importante, uma história começou, tive prazer,sorri de forma iluminada,
aproveitei a companhia, o lugar, o instante? Qual a intensidade deste dia que
passa e qual a intensidade de todos os outros, do passado e do futuro? O que
faz dele um dia que não foi perdido? Um dia vivido.
Se eu soubesse o que quero, talvez pudesse dizer: viver com
intensidade e equilíbrio. Talvez sejam dois termos que só possam estar juntos
de forma literal em I believe I can fly.
E aí eu complico mais ainda e quero naturalidade, liberdade. Só que eu
gosto de programar as coisas. Só que eu gosto de viver o momento. Só que eu
gosto de me preocupar com a felicidade alheia. E a apreensão que nos foi mais
ensinada que o prazer é opressora do aproveitar a vida.
O tempo não bastaria para colocar toda a interligação
das palavras, pensamentos, ideias, comunicações, sensações, memórias afetivas, colocar
tudo no ritmo de uma escuta. Tento me calar. Meu pensamento não me
permite. A culpa e o desejo disputam o mesmo espaço. Um documento que não foi
entregue, um amigo que não encontrei, a imaginação de uma viagem, a caminhada
em uma praia, um quadro de um olhar compartilhado.
Ocupo minhas mãos para que
as tarefas vençam os meus pensamentos, assim venço minha mente e a transformo
em apenas mundana.
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